Em 2019, durante uma viagem ao interior da Bahia, em Conceição de Jacuípe, registrei cenas da feira livre que acontece aos domingos — um espaço vibrante onde produtores locais se reúnem para vender o que cultivam com as próprias mãos.
As imagens capturam mais do que o comércio de alimentos: revelam a força e a dignidade dos trabalhadores rurais que empreendem com coragem e constância, transformando o fruto da terra em sustento e troca.
Entre sacas pesadas e balanças antigas, um homem se destaca. Sentado entre montes de grãos, ele carrega no rosto um sorriso sereno, mesmo diante da rotina árdua. Seu gesto é de acolhimento, sua presença, de resistência. A fotografia, nesse contexto, torna-se testemunho de uma economia afetiva, onde o trabalho manual se entrelaça com histórias de vida e vínculos comunitários.
Os produtores não apenas vendem — eles compartilham saberes, constroem redes e mantêm viva uma tradição que resiste ao tempo.
Essa imagem é um convite à escuta visual. Ela não romantiza o trabalho, mas reconhece sua beleza cotidiana. Um retrato de quem planta, colhe e sorri, mesmo quando o peso da jornada se faz presente. Um gesto de respeito à terra e a quem dela vive.
Bárbara é artista visual cuja poética transita entre o documental e o experimental, revelando escuta crítica sobre o cotidiano. Formada em Fotografia pelo SENAC-RJ e pós-graduada pela Universidade Cândido Mendes, aprofunda sua pesquisa em Fotografia Expandida no Parque Lage.
Sua produção articula linguagens híbridas, da câmera DSLR ao celular, da colagem digital à intervenção manual, tensionando os limites do registro fotográfico. Propõe imagens que interrogam e revelam camadas do imaginário urbano e social.
Reconhecida em festivais como Paranapiacaba (2025) e pré-selecionada no Paraty em Foco (2018), participou de exposições no Museu Bispo do Rosário, no CCJF/RJ, Paraty em Foco, entre outras. É coautora do livro Eu Fotografo/Eu Espectador, pelo Coletivo Nós da Pós.